Elo Primitivo

terça-feira, junho 29, 2004

Moeda, moda e merda

André escreveu o bilhete na nota de R$ 100,00: Você oscila mais que a cotação do dólar. Apertou o nó da gravata italiana e foi trabalhar, na Bolsa de Valores.
Carla acordou, os restos da noite anterior e o bilhete estavam em cima da mesa de cabeceira. Comeu bolo e bebeu champanhe. Foi ao banheiro, limpou a bunda com a nota de R$ 100,00. Voltou pra cama e dormiu profundamente.

sexta-feira, junho 25, 2004

Silêncio

Palavras, palavras, palavras.

Apenas infixos e palavras.

Palavras ao léu, lúdicas, libertinas.

As mais significantes, guardadas.


A colisão do olhar desabafa _ sem som.


Pupilas insi-nuam,
lambem segredos des
vendados
no frêmito,
sincronia, sortilégio.


... silêncio ...



20/02/03

terça-feira, junho 22, 2004

CHICO LÁ

Fonte: Folha de São Paulo, em 22/06/04

"Chico Buarque foi lançado candidato à Academia Brasileira de Letras. A sugestão foi feita sábado, num evento cultural na Mangueira, no Rio, pela jornalista Cecília Costa, a primeira-dama da ABL - ela é mulher do presidente da entidade, Ivan Junqueira. Cecília foi aplaudida por intelectuais e representantes da comunidade mangueirense."

sexta-feira, junho 18, 2004

Deus... Deus?!

"Eu nunca vi Deus." rende-se a mãe, após 365 perguntas sobre a origem do universo.
"Eu já." diz Gabi, na sabedoria dos seis anos de idade.
"Onde?"
"Lá no nada vi."
"Nada vi? Onde fica isso?"
"Ali, atrás da porta." ele aponta com tanta convicção que a mãe se levanta e abre a porta da sala.
"Não tem nada aqui."
"Tem sim. Deus tá em cima da sua cabeça."
"Num tem nada aqui, menino."
"Ele tá invisível, tá no mundo inteiro, até nessa cadeira que você acabou de sentar. Ele falou assim ó: Sai de cima de mim."
"Pára Gabi. Que bobeira."
"Levanta mãe. Tá machucando Deus."
"Com quem você anda aprendendo essas coisas?"
"Com Deus, ele é maneiro."
"Ai, ai, vamos pro banho que está na hora."
"Péra, ele tá me contando um segredo... mãe... num faz a surpresa pro papai hoje, não."
"Como é que você sabe disso?!"
"Mãe... vai não... tô avisando."
"Gabi, o que é que Deus está contando, fala, anda menino, diz logo."
"Enganei o bobo, na casca do ovo."

segunda-feira, junho 14, 2004

Surpresa...

Já falei sobre o Fred por aqui. Agora tem novidade no pedaço. Aliás, ele escolheu o título dessa parceria_ brincadeira com minhas palavras e movimentos dele. Ficou curioso/a? Vai lá...

domingo, junho 13, 2004

Cartesiano

"Daquele amor que nunca tive tenho
saudade ou esperança?"

Cacaso

sábado, junho 12, 2004

Livro, fiel namorado *

"Quando penso em todos os livros que ainda posso ler, tenho a certeza de ainda ser feliz." Jules Renard

"É o que você lê quando não tem que fazê-lo que determinará o que você será quando não puder evitar." Oscar Wilde

"Escondidas no silêncio da biblioteca, mascarados pela escura monotonia das capas, todas as palavras estavam lá, esperando que eu as decifrasse. Eu sonhava me enfurnar naqueles corredores poeirentos, e nunca mais voltar." Simone de Beauvoir

"Um amigo, com quem percorria sebos e livrarias, costumava examinar os livros nas prateleiras, percorrendo-os simultaneamente com os olhos e o dedo indicador, que passeava pelas lombadas perfiladas, acariciando-as como se fossem o corpo de virtuais namoradas, objetos de desejo, amor. De repente, parava. Estava diante da possibilidade de um encontro que poderia mudar sua vida para sempre. Retirava então o livro da estante, com reverência, e o abria aleatoriamente, deixando as páginas deslizarem por seus dedos, num ruído semelhante ao do jogador de pôquer ao embaralhar as cartas. Depois, fechando os olhos, cheirava o livro, prazerosamente. Diante do meu espanto, esclarecia que o cheiro do papel é um bom indicador da qualidade do livro, quase que o cheiro da pele. Por fim, passada essa fase, digamos, de preliminares amorosas, ele se concentrava na leitura.

Meu amigo é o que se costuma chamar de devorador de livros. A expressão é rica em imagens. Pode associar o prazer da leitura ao de um amante pervertido, que sente prazer com o manuseio das folhas de papel e a viagem pelas letras e seu significado, ao de um gourmet que degusta requintes gastronômicos ou mesmo ao de um voraz glutão diante de um prato suculento. Talvez, ainda, um antropófago rendendo suas homenagens ao inimigo vencido, e comendo-o com deleite. Não há exagero nessas metáforas. Todas elas são pertinentes para se tentar descrever a paixão pelos livros dos que são ávidos não só pelas histórias, enredos e idéias, mas, fisicamente, pelo objeto em si. Para essas pessoas, o livro é muito mais do que uma opção de lazer. Está além da razão ou da idéia positivista de que se limita à função de esclarecer, entreter e iluminar. O que move o apaixonado ou devorador de sopa de letrinhas é algo que opera em outra província da alma humana, outra região do psiquismo."
* Paulo Thiago de Mello, Prosa & Verso, O Globo

quarta-feira, junho 09, 2004

Alguns títulos de capítulos do romance Elo Primitivo

O tempo traduz a verdadeira e a falsa intensidade.

A dor se multiplica na inquietação.

Fissuras de pensamentos repousam em paradoxos.

No deserto da neutralidade.

As peças são movidas por um jogador invisível.

A verdadeira essência cura.

Na sincronicidade a roda gira.

Lembranças adormecidas debruçam sobre abismos.

Antítese experimenta síntese.

Cacos iluminam o caminho.

Átimo de fé na submersa esperança.

O barro calcificado no âmago da tormenta.

Teias na curva do cotidiano.




domingo, junho 06, 2004

Pele das estações

Outono floriu encanto
inverno suou silêncio
primavera frutificou
eco do esquecimento.

Verão, pétalas de fogo
febril estação do novo
despe mágoas, vestidos
veste lábios, sorrisos.

quinta-feira, junho 03, 2004

Encontros significativos

Ela faz a panela girar ao contrário. Desata risos, gostos e cheiros que vêm de longe. Hoje, saí de lá com respostas para perguntas que ainda não havia feito. Anoto poucas palavras em papel:

“O silêncio não é silêncio, é um silenciamento”.

“O visual impera no mundo atual e, no entanto, a gente nunca foi tão invisível.”

“A leitura é um mar bravio que eu tenho que enfrentar”.

Ela é professora da Pós-graduação em Literatura infanto-juvenil na UFF. Ela é Nanci Nóbrega e eu uma de suas alunas em Produção textual: Narrativa, com muita honra.

terça-feira, junho 01, 2004

Roland Barthes

Na aula inaugural no colégio da França, Barthes encerra o texto, resumindo sua experiência na etimologia de um nome: “sapientia: nenhum poder, um pouco de saber, um pouco de sabedoria e o máximo de sabor possível.”