Elo Primitivo

quarta-feira, maio 16, 2007

Viagens em Foz do Iguaçu

foto: Sabine Marins
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Os rios, tranqüilos nas superfícies, disfarçam as potências submersas. Não dá mesmo pra acreditar nessas águas calmas que se movem em câmera lenta.
No caminho sobre as passarelas de madeira borboletas beijam visitantes, pegam carona em nossos corpos, bebendo gotas de suor como néctar. É o caminho florido de borboletas azuis, vermelhas, brancas, amarelas. O calor, efervescente, borbulha na pele. Sob a passarela, um jacaré. Sobre os galhos das poucas árvores, pássaros azuis; sobre o corrimão, centenas de borboletas brincando indiferentes aos passantes.
Já não vejo minha família, nosso ritmo é diferente, fico pra trás como sempre, como em todas as viagens, já conheço a frase que me espera ao chegar lá. Relaxo, pensando na necessidade de olhar o mundo em microscópio. Ver a olho nu, rever em objetiva, em zoom, em macro, em detalhes-retalhos pra entender o todo.
Depois lamento cada um dos passos largos. Na quase corrida engulo o ar que bate no rosto e leva gotas de suor ao vento, que se misturam ao rio, correndo pra algum lugar do planeta.
Chego a plataforma_ Garganta do Diabo_todos se deslumbram, fotografam. Perplexa diante da cena não me movo. Sinto a comunhão.
Mamãe me abraça para uma foto, meu filho também , todos envolvidos numa espécie de encantamento das águas. Águas que escorrem em fúria, que vieram dos rios calmos que acabei de assistir. Águas que me embalaram no útero enquanto crescia conectada ao universo-mãe, que agora me beija, sorrindo; águas que embalaram meus filhos em meu ventre e os protegeram durante os nove meses de incertezas, desaguando na maior e mais profunda emoção sentida no meu universo.
São os fluxos torrenciais renascendo de conexões sem sentido lógico, não dando a mínima para códigos de éticas conscientemente estabelecidos. Os sentimentos primitivos jorram dentro da gente, de repente. Potencializam-se com um respingo de águas das Cataratas. O catalisador também pode ser um som, uma palavra, um cheiro, um bater de asas de borboleta. Acontece sem aviso prévio, de uma hora para outra, assim como hoje, justamente no dia das mães, vendo por acaso uma fotografia digital.



foto: Rodrigo Nolasco