Elo Primitivo

terça-feira, abril 06, 2004

Desconjuro

A porta abriu-se abruptamente. Entrou. Olhos esbugalhados. Mãos tremendo incontroláveis. Cabelos espetados.
Um silêncio repentino tomou conta da sala.
Todos se voltaram para ele. O peão se acalmou e narrou a história pouco-a-pouco.
– Eu tava lá pelas bandas do rancho velho. Pra modo de consertá uma cerca arrebentada. De repente senti uma quentura no pescoço... Minha nossa senhora! Desconjuro! Nunca vi uma coisa daquela! Um pássaro que parecia um sabiá, mas sem nenhuma pena. Ô bicho feio. Peguei o sacho e taquei nele. Parti o cabrunco no meio.
– E daí Zé? Por que está tão espantado? Você matou um Turdídeo impene. - Falou o patrão do Zé, biólogo.
– Num matei isso aí não senhô. Foi um passarinho mermo. Só que o troço veio atrás de mim. Cada enxadada que eu dava ele aumentava de tamanho. Fico maió que um touro. Enfrentei Doutor. Num fui covarde não! Mas o danado me bicou. - Ele mostrou uma ferida no braço.
– Tá bom Zé. Quer ir para casa ver a família, é isso? Na próxima vez vem aqui e me pede. Agora pode ir. - Todos riram. O empregado saiu cabisbaixo pelos fundos.
Ouviram um barulho na porta da frente. O Doutor foi abrir.
– Socooorro!!!!!!

P.S.: O trecho em itálico foi elaborado por Airo Zamoner.