Elo Primitivo

quarta-feira, abril 28, 2004

Fragmento do conto Encontros transparentes

Sou um dicionário grego, belo em símbolos, indecifrável. Latejo idéias, expurgo sentimentos, fotografo imagens inexistentes. E respiro, por incrível que pareça. Teses não me interessam. O que inspira urgência vale a pena, o resto é acomodação.
Nada é mais verdadeiro do que a transparência desses vidros. Enxergo através, sem distorções, sem mal-entendidos. Verde é verde e só. O barco navega em linha reta, sem metafísicas. A lua ainda me emociona. O avião sobe aos céus, quantas pessoas ele carrega? Quantos sonhos e conflitos ele leva? Meu pensamento voa a cada instante, flutua no espaço, naquele espaço vazio que algumas pessoas deixaram.
A nuvem que vejo agora é ilusão. Tantos artistas se achando gênios.
Minhas verdades mudam a cada minuto, a cada tombo. Percebo agora o que me era velado ontem, mas que amanhã poderá ser encoberto por novas revelações. A pele desvenda verdades absolutas, ainda que frugais e desligadas de palavras gastas e intensas como o amor. O amor, não sou contra, mas nem tudo que pulsa é compromisso, às vezes, é melhor. O toque tatua memória na pele, arde em vontades, dilata desejos…