Elo Primitivo

domingo, setembro 12, 2004

Livros que se escrevem


Revejo filmes de tempos em tempos, decoro cenas, como criança. Transcrevo diálogos, depois rasgo, jogo fora. É como se a cada nova tentativa uma peça se encaixasse, mesmo sabendo que esse quebra-cabeça é infinito.
Revi Irreversível de Gaspar Noé ontem, Morangos Silvestres de Ingmar Bergman anteontem, mas foi hoje, aos 45 minutos de Cidade dos Anjos de Brad Silberling que aconteceu...
O final do romance foi aparecendo, veio inteiro, redondo, como se fosse um presente dos anjos_ sabe-se lá_ eu não tinha idéia de que havia um novo livro à minha frente. Assisti ao filme sem pressa, ainda com esperança de que fosse fogo de palha _sei o trabalho que terei pela frente. Mas não, escrevi cinco páginas num fôlego só. Caramba! Pela primeira vez vou me lançar à aventura conhecendo o final, o que me movia era a imprevisibilidade do que poderia acontecer. O primeiro capítulo já estava escrito há tempos e eu nem sabia, mas assim que terminei o fim, veio o começo na cabeça, como se a história estivesse solta em algum lugar e eu simplesmente houvesse puxado a ponta do fio.
Isso aqui já está virando papo de maluco...
.
Daniel Pennac escreveu *: “Reler não é se repetir, é dar uma prova sempre nova de um amor infatigável”. A ficha caiu, a escrita é o meu sexto sentido, percebo melhor o mundo, escrevendo.



* Como um romance, pg 57.