Elo Primitivo

domingo, outubro 31, 2004

V.I.B.R,A.Ç.Ã.O.






Cristo Redentor-Pão de Açúcar-Baia de Guanabara visão panorâmica da cama recém-acordada. Luz-brilho-solar reflexos da noite, sentidos em alerta, sem obstruções. Clara, livre da virose, das semanas híbridas, corpo se espreguiçando de-va-gar sob o lençol alvo, flagrante do ócio em grau máximo e mínima dispersão. Cheiro de ambigüidade na manhã de hoje-amanhã-depois. Bem-te-vi na varanda, cortinas escancaradas, fios de alvorada des-tecendo sei-lá-o-quê. Mãos em íntimas especulações diante do corpo decifrado em autobiografia. Indícios caprichosos de pulmões, diafragma vez por outra trans-formado. Clara inspirava a falta de si mesma forçando-se à desestabilização. Investigava a fonte aqui e ali, plenitude perdida-buscada em um outro-eu-não-eu. O ritmo invadia surpreso com a infusão de líquidos sem constrangimento. Medo + força; coragem + paralisia esperando o calor ordenar o momento de renascer, sair da casca, repelir fugas daquele faz-de-conta-felizes-(in)-para-sempre. Nessa manhã, vestida de verdade, Clara se fez inteira e recoberta de tudo-junto-confuso encontrou seu umbigo onde não procurava. Era longo o caminho entre o real e o virtual saber indi-vidual.
Cobriu a cabeça e esperou quieta, engolindo todos os fantasmas, a garganta queimando, estômago embrulhado, dor irradiando pela perna até extrem-idades. Não cortou de véspera, digeriu-as. Evaporaram-se em seu tempo, como estátuas de gelo expostas ao sol.
Enquanto os olhos novamente se abriam, agora em manhã-hoje-luz, a água fervia na cozinha em infusão no pó, cheiro do café pelo corredor em nuvem invisível.
Clara ali, no ponto mais alto sozinha, pouco a pouco acompanhando-se; noites-bem-dormidas, projetos-por-experimentar, rebentos multicolores, cercada de flores por todos os lados.
Espreguiçou-se, a camisola de seda verde roçando no algodão branco, lânguida, sorriso-3/5-boca-fechada, colhendo pedaços de sei-lá-o-quê, desses momentos em que ventos, cores, infâncias, sorrisos, ruídos, chegadas, partidas, permanências, lápis, borracha, língua, futuro, febres, arroz, feijão, passeios, viagens, capelas, parques, nuvens, relâmpagos, queijo, feira, faca, mola, ímã, geladeira, impossibilidades, pedra, pipa, pipoca dão as mãos, formando um arco-íris dentro da gente. Esse colorido que dura não-sei-quanto e faz valer à pena. A perigosa tal-felicidade livre de máscaras. Clara percebia-se maior, preciosa, vivenciava-se entre elos fortificados; sozinha, sempre estaria, acompanhada, alguns-tantos. Era feita de encontros, incorporaram-se a ela, argila, reforçavam-se chuva, música, pessoas por conhecer, papel solto, fotografias, blusa rosa, calça amarela, anjos, sorrisos infantis, pequeninas mãos enlaçadas em abraços, cheiro de milho verde, cidades inventadas, sinos desdobrados, pássaros em vôo, breve, libélulas, eternidades. Bom saber-se assim, bom guardar-se assim, todo o resto não importava mais e ponto final,