Elo Primitivo

terça-feira, dezembro 14, 2004

O Mario que não é de Andrade *

"- A nossa língua é o brasileiro, e o Carlos** escreve como se estivesse em Portugal! Ele escreve "acolá", você acredita!? Uma palavra horrível! Você já disse "acolá" alguma vez na sua vida?
- É, nunca disse.
É claro que não. Isso só se diz em Portugal ou nos livros didáticos. Olha outro exemplo: em vez de escrever como a gente fala, "fui na farmácia", ele escreve "fui à farmácia", exatamente como falam lá em Lisboa. Mas nós estamos no Brasil e aqui a língua é diferente, mas na hora de escrever não sei o que acontece, que todo mundo se mete num fraque, numa formalidade sem sentido. Menos o povo, que não é estúpido, sabe que a língua é viva, e naturalmente procura outras formas de se expressar.
- E eu que pensei que o povo falava errado...
- Aí é que está: quem fala a língua? Quem cria uma maneira nova de falar? É o povo, que vive a língua, e não nós, os literatos, que vivemos enfiados nos livros e só escrevemos as mesmas palavras caducas, cultas, clássicas. O povo, não: o povo tranforma, inventa a língua..."
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Grande Mário... não é à toa que se eternizou.
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* Luciana Sandroni
** Carlos Drumond de Andrade