Elo Primitivo

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Folha de S. Paulo - 19/2/2005 - por Cassiano Elek Machado
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Paul Auster é um sujeito que cata a poesia que entornam no chão. Seus nove romances e o outro punhado de livros que publicou sempre nascem das histórias fortuitas que apanha nas ruas ao acaso. Não por acaso, é ele, o acaso, um tema central em sua obra. Em 1999, este colecionador de imprevistos particulares resolveu mergulhar no fortuito das vidas alheias. Atendendo a convite da NPR, a rádio pública norte-americana, organizou um programa mensal no qual convocava ouvintes de todos os Estados americanos a enviarem relatos de histórias que haviam vivenciado. O escritor norte-americano de 58 anos viu-se rapidamente às voltas com uma avalanche (chega de "tsunamis", por favor) de relatos de todas as espécies. Todos os dias, por volta do meio-dia, pegava um ramalhete de histórias em uma caixa postal alugada para o projeto e fazia dos relatos seus companheiros de almoço. Almoçou durante quase dois anos com mais de 5.000 estranhos, de todas as profissões, Estados e idades. No seu escritório, ele conta que organizou três cestas, com as inscrições "definitivamente boas", "quem sabe" e "não". Estas "definitivamente boas" foram lidas nas rádios americanas e depois agrupadas em um livro. Achei que Meu Pai Fosse Deus (400 pp., R$ 49), título de uma das histórias que recebeu, é o nome deste volume, que a Companhia das Letras lança na próxima semana no Brasil.