Elo Primitivo

sábado, março 05, 2005

Meninos e Meninas

Posted by Hello



Parece clichê, e é. Parece que não saímos da primeira infância e tudo gira em torno de algo indefinido; os segredos bem guardados de nós mesmos em camadas protetoras.
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Chegou em casa bufando e disse na lata: Péssimo dia! Péssimo, péssimo dia! Passou batido, entrou no quarto e a porta fez buuuum de novo. Fui atrás, sem fazer barulho, espiei: mochila azul no chão, merendeira vermelha em cima da cama, biscoito de chocolate aberto no meio, uma banda em cada mão. Já ia lamber o recheio quando me viu. "Mãe... péssimo dia." Come o biscoito. "Foi horrível o meu dia. Quer ?" "Hum hum." Como primeiro o recheio, assim como ele; assim como eu fazia quando criança. Ele ri. "Péssimo dia, mãe". Olha bem nos meus olhos e solta a bomba no ar. "Me deu uma cabeçada e eu dei um chute na canela dele." "Ele quem?" "Lucas." Fica na expectativa. Lucas, o melhor amigo. Como outro biscoito, dessa vez mordo inteiro. "Onde foi?" "No recreio." "Tá doendo?" "Não." "Não?" "Já passou." "Ãh... quer mais um?" "Chega né, mãe, assim vai me dar dor de barriga." "Ô moleque, quantos anos você tem, hein?" Como ele de cosquinhas. "Se esqueceu? Completei a mão inteira." Me mostra orgulhoso. "Cinco flechas infravermelhas ou um escudo protetor, tchanrammmmm." Se liberta dos meus beijos e sai voando pela casa, o meu menino.
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Sessão pipoca: Shrek.
Antes de dormir, este belíssimo livro que é um dos meus favoritos:
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O Homem que Amava Caixas
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Escrito e ilustrado por Stephen Michael king, ed: Brinque-Book
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Era uma vez um homem
O homem tinha um filho
O filho amava o homem
e o homem amava caixas.
Caixas grandes
caixas redondas
caixas pequenas
caixas altas
todos os tipos de
caixas!
O homem tinha dificuldade
em dizer ao filho
que o amava;
então, com suas caixas,
ele começou a construir coisas
para seu filho.
Ele era perito
em fazer castelos
e seus aviões sempre voavam...
a não ser, claro,
que chovesse.
As caixas apareciam de repente,
quando os amigos chegavam,
e, nessas caixas,
eles brincavam...
e brincavam...
e brincavam.
A maioria das pessoas achava que
o homem era muito estranho.
Os velhos apontavam para ele.
As velhas olhavam zangadas para ele.
Seus vizinhos riam dele
pelas costas.
Mas nada disso preocupava o homem,
porque ele sabia que tinham encontrado
uma maneira especial de compartilharem...
o amor de um pelo outro.