A Bienal Maluquinha
O Bate-papo entre Ruth Rocha, Ziraldo e Lygia Bojunga no auditório Fernando Sabino hoje à tarde, teria sido bem melhor sem a presença da despreparada mediadora Talita Rebouças. Não dá para acreditar que um evento deste porte, com nomes consagrados da literatura infanto-juvenil sujeite nossos ícones nacionais a indagações, no mínimo, inconsistentes. Ziraldo, após uma hora falando com a garganta seca, pediu a organização, através do microfone e sob risos da platéia, que providenciasse um copo d’água. Lygia mostrou sua garrafa plástica e disse que uma leitora teve a gentileza de presenteá-la. As perguntas repetitivas e tolas ainda eram interrompidas com comentários “tipo assim” “caraca!” “fofo” “demais!” Vocabulário adequado para figurar no programa daquelas duas atrizes globais – como é mesmo o nome? Deixa pra lá. Para terminar, a moça permitiu que uma ouvinte Baiana e articulada ocupasse o microfone por quinze minutos, fazendo duras críticas à Bienal, dizendo-se vítima de maus tratos com embasamento teórico de Roberto Freire. Um dos responsáveis (?) quase teve um ataque cardíaco, fez sinais desesperados, mas recebeu como resposta apenas o belo sorriso. Ziraldo se desculpou com o público, lia-se em suas feições o que nos perguntamos em momentos extremamente constrangedores: o que é que eu estou fazendo aqui?! Lamentável... enfim, vamos ao que interessa:
Trechos soltos
Ligia Bojunga :
Um grande problema é que os professores, a maioria, não são leitores apaixonados, não são nem leitores. A gente, quando está apaixonado, reflete nos gestos, no olhar, na tonalidade da voz. Esse amor é captado pelos leitores. Muitas vezes sou tomada por um desânimo devido a tanta coisa ruim que tenho visto. Mas aí acontece algo bom, como uma palestra que participei em Passo Fundo, RS com 1.200 jovens interessados em Literatura. Isso renova minhas esperanças. Passo Fundo mobiliza toda a cidade em torno do livro. É um carnaval literário.
Não escrevo direcionada para um determinado público. Tenho leitores de todas as faixas etárias. Apenas nos primeiros dois livros escrevi querendo me ligar na criança que fui. O último projeto se concretizou ontem com a chegada de todos os meus personagens – 18 livros – na minha própria editora. Não me conformava em trilhar só metade do caminho e entregar nas mãos do editor. Eu queria um livro com papel feito à mão, encadernado a mão. Comprei três livros que ensinavam a fazer papel e foi assim que tudo começou. A relação que tenho com o livro é física: apalpar, sentir o cheiro, prazer da companhia... Sempre usei livros para tudo: para aprender a ler, escrever; como calço de mesa; para enfeitar todos os cômodos da casa; para sentar em cima; tacar na cabeça do outro na hora da raiva; para nunca ter solidão. A COISA QUE MAIS ME ESPANTA É GENTE QUE CONSEGUE VIVER SEM LIVROS. *
Ruth Rocha: O esporte tem verba dez vezes maior do que a educação. É importante reverter valores educacionais; os nerds, os bons alunos precisam ser admirados, incentivados.
Trabalhei com crianças com problemas e senti uma enorme cumplicidade. Essa convivência se refletiu na minha escrita, eu queria ajudá-las de alguma forma.
Escrever para adultos é se denunciar demais, nunca quis.
Trechos soltos
Ligia Bojunga :
Um grande problema é que os professores, a maioria, não são leitores apaixonados, não são nem leitores. A gente, quando está apaixonado, reflete nos gestos, no olhar, na tonalidade da voz. Esse amor é captado pelos leitores. Muitas vezes sou tomada por um desânimo devido a tanta coisa ruim que tenho visto. Mas aí acontece algo bom, como uma palestra que participei em Passo Fundo, RS com 1.200 jovens interessados em Literatura. Isso renova minhas esperanças. Passo Fundo mobiliza toda a cidade em torno do livro. É um carnaval literário.
Não escrevo direcionada para um determinado público. Tenho leitores de todas as faixas etárias. Apenas nos primeiros dois livros escrevi querendo me ligar na criança que fui. O último projeto se concretizou ontem com a chegada de todos os meus personagens – 18 livros – na minha própria editora. Não me conformava em trilhar só metade do caminho e entregar nas mãos do editor. Eu queria um livro com papel feito à mão, encadernado a mão. Comprei três livros que ensinavam a fazer papel e foi assim que tudo começou. A relação que tenho com o livro é física: apalpar, sentir o cheiro, prazer da companhia... Sempre usei livros para tudo: para aprender a ler, escrever; como calço de mesa; para enfeitar todos os cômodos da casa; para sentar em cima; tacar na cabeça do outro na hora da raiva; para nunca ter solidão. A COISA QUE MAIS ME ESPANTA É GENTE QUE CONSEGUE VIVER SEM LIVROS. *
Ruth Rocha: O esporte tem verba dez vezes maior do que a educação. É importante reverter valores educacionais; os nerds, os bons alunos precisam ser admirados, incentivados.
Trabalhei com crianças com problemas e senti uma enorme cumplicidade. Essa convivência se refletiu na minha escrita, eu queria ajudá-las de alguma forma.
Escrever para adultos é se denunciar demais, nunca quis.
Quando inventaram a bicicleta disseram que as crianças iriam parar de ler, depois foi o quadrinho, a televisão, agora é a Internet... Cada coisa que entra na vida moderna tem seu espaço. O livro é um objeto indestrutível.
Ziraldo: A Globo tem uma preocupação enorme em consolar os familiares dos homossexuais, se utiliza das novelas para essas famílias aceitarem, felizes as diferenças, não tenho nada contra. Mas ela poderia investir também no incentivo à leitura. Os escritores deveriam exigir uma maior publicidade. As editoras deveriam se cotizar e pagar um espaço na Tv diariamente, algo como: Livro - gênero de primeira necessidade.
A Internet é o paraíso da mediocridade. É uma ferramenta usada pelos imbecis. Saia da Internet, vá ler um livro. O livro é mágico, é maior do que a vida porque ele contém toda a vida. Cada passagem de página é a passagem do tempo, do espaço.
Minha lembrança mais antiga é a de desenhar. Foi a primeira linguagem. Goya, em sua época, fazia crítica social através da pintura. Achei que seria pintor. Mas... comecei a escrever. Escrever é muito mais difícil do que desenhar. Tenho fascínio pelo texto, sofro muito pela qualidade do texto. Sei quando um desenho está pronto, mas nunca quando um texto está pronto. O Otto Lara Resende nunca conseguiu fazer a segunda edição dos livros dele, porque sempre queria mudar tudo.
* o grifo é meu.
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