Fotografias
Para Sônia Monnerat - pela surpresa hoje.
As fotos iam mudando de posição, da primeira à última da fila. Sob a cama, ainda desarrumada, caixas revestidas com papel floral, envolvidas por largas fitas de cetim verde. Imagens trazendo o inevitável, emoções na palma da mão; passado revivido ocupando a mente, seu corpo presente. Pessoas em 10 x 15, retangulares, desaparecidas do cotidiano.
Sônia pegou a agenda telefônica, mas o tempo, esse ser tão maleável, ele mesmo soprou: Acorda, você está vivendo o inexistente. Eu não sou eu-agora, sou eu-viajante na máquina do meu tempo sideral.
Amarrou as fotos num laço desajeitado. Abriu outra caixa, essa forrada com tecido brocado salmão, presente da tia Carmem em algum aniversário. Fotos dos 15 aos 19 anos, relaxou em sorriso. Observava, tateava, sentia o cheiro de férias, maresia, vento, moto, dunas, pôr-do-sol, pele bronzeada, pele ardida, vermelha, descascada. Corpo: despido, vestido em viagens, descobertas do, febre de, pulsações, tremores, linguagem. Bilhetes em guardanapos de papel escritos com batom, beijos fim de noite, abraços a beira-mar, serenatas, bebedeiras, tombos, bugue, Paralamas, Legião Urbana, Fernando Pessoa, Cadu, Claudia, pitanga, olho-de-gato, Marise com esse, banho de chuva, de lua, tchau com tradução de fica mais um pouco, mais um muito, mais tudo, jogo, peteca no ar.
A foto em que jogava peteca com o irmão foi o estopim do pensamento: É isso! É isso o amor. Claro! A peteca. Alegria de jogar. Puro prazer com um jogador específico simplesmente por brincar.
Sônia vinha dissolvendo conceitos, preconceitos, pré-conceitos. Cruzou as pernas, havia prazos a considerar. Essa tênue passagem de tempo entre a meia-noite no último dia de validade e a primeira hora do dia seguinte. Certo cheiro de alguma coisa passada na geladeira.
Intensidade – esse era o escopo da emoção. Imagens superpostas no corpo de Ser. Arquivos abertos, escancarados nos corredores da inconsciência. Chuva de fotos _ dança de papel, braços, sorrisos, pernas, colchão de molas.
Deitou, ocupando todo espaço da cama. O primeiro estágio do sono: um olho no sonho, um ouvido na realidade, dormência. Mente em raro instante de branco, plenitude ao vivo, a cores, em preto e branco; na real sintonia incongruente dos desejos.
Bem dentro do sonho, tomou a decisão. Assim que acordou, pegou papel e caneta na gaveta. Ela sabia que não esqueceria. Escrever era uma espécie de oração, um mantra devotado a si mesma para não cair na tentação de fraquejar ou de se acomodar.
Amarrou as fotos num laço desajeitado. Abriu outra caixa, essa forrada com tecido brocado salmão, presente da tia Carmem em algum aniversário. Fotos dos 15 aos 19 anos, relaxou em sorriso. Observava, tateava, sentia o cheiro de férias, maresia, vento, moto, dunas, pôr-do-sol, pele bronzeada, pele ardida, vermelha, descascada. Corpo: despido, vestido em viagens, descobertas do, febre de, pulsações, tremores, linguagem. Bilhetes em guardanapos de papel escritos com batom, beijos fim de noite, abraços a beira-mar, serenatas, bebedeiras, tombos, bugue, Paralamas, Legião Urbana, Fernando Pessoa, Cadu, Claudia, pitanga, olho-de-gato, Marise com esse, banho de chuva, de lua, tchau com tradução de fica mais um pouco, mais um muito, mais tudo, jogo, peteca no ar.
A foto em que jogava peteca com o irmão foi o estopim do pensamento: É isso! É isso o amor. Claro! A peteca. Alegria de jogar. Puro prazer com um jogador específico simplesmente por brincar.
Sônia vinha dissolvendo conceitos, preconceitos, pré-conceitos. Cruzou as pernas, havia prazos a considerar. Essa tênue passagem de tempo entre a meia-noite no último dia de validade e a primeira hora do dia seguinte. Certo cheiro de alguma coisa passada na geladeira.
Intensidade – esse era o escopo da emoção. Imagens superpostas no corpo de Ser. Arquivos abertos, escancarados nos corredores da inconsciência. Chuva de fotos _ dança de papel, braços, sorrisos, pernas, colchão de molas.
Deitou, ocupando todo espaço da cama. O primeiro estágio do sono: um olho no sonho, um ouvido na realidade, dormência. Mente em raro instante de branco, plenitude ao vivo, a cores, em preto e branco; na real sintonia incongruente dos desejos.
Bem dentro do sonho, tomou a decisão. Assim que acordou, pegou papel e caneta na gaveta. Ela sabia que não esqueceria. Escrever era uma espécie de oração, um mantra devotado a si mesma para não cair na tentação de fraquejar ou de se acomodar.
E, então, Sônia escreveu:
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