Elo Primitivo

terça-feira, maio 24, 2005

Jeri, foto: Rinaldo Nolasco


Inventário do ir-remediável


(...)A visão tardia de encontrar a chave depois da porta ter-se tornado inexistente. A chave inútil pesando em fogo nas mãos e o gesto há muito tempo preparado transformado subitamente em cansaço e desencanto de não ter visto antes. Os dois sentados um em frente ao outro, pela tarde a transformar-se lenta em noite, em madrugada, em cinza. Não virá nunca.
Véspera de sábado, na sala ao lado o telefone grita para ouvidos distraídos. Sua mão esfaqueia a parede, as palavras caem como frutos podres, como flores colhidas, como crianças mortas. Nas mãos, a chave achada muito tarde, muito tarde. Tarde demais.
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Caio 3D, Caio Fernado de Abreu