Elo Primitivo

segunda-feira, junho 20, 2005

Prainhas do Pontal, Arraial do Cabo, 19/06/05



Mistério

O mistério das coisas, o mistério das coisas, onde está
ele?
Onde está ele que não aparece ao menos para mostrar-nos
que não é mistério?
Que sabe o rio disso?
Que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei eu disso?
E sempre que eu olho para as coisas e penso no que os
homens pensam delas, eu dou risada.
Eu dou risada como um regato sua fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das coisas é elas não
terem sentido oculto nenhum.
É mais estranho do que todas as estranhezas, do que os
sonhos de todos os poetas e o pensamento de todos os
filósofos,
que as coisas sejam o que realmente parecem ser e não
haja nada que compreender.
Sim, sim, heis, heis o que os meus sentidos aprenderam
sozinhos,
as coisas não tem significação, tem existência.
Fernando Pessoa