Elo Primitivo

sábado, agosto 19, 2006

2121

foto: Sabine Marins
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Ele diz que a decisão é minha, fecha a porta e vai embora. Deitada na cama, cubro a cabeça com a coberta. O termostato apita em 38 graus, acionando o ar-condicionado.
Horas mudam a cada 30 minutos. Estou sempre atrasada. Ele disse que a decisão é minha. Não sei se quero gerar mais um ser humano com metas, bônus e benefícios. Chips implantados em embriões.
Ele não quer participar e eu me sinto incapaz de decidir. Sou uma falha do sistema, inadequada aos tempos modernos. Uma quimera perdida no espaço sideral.
Terminei o doutorado aos 19 anos, uma catástrofe, meu irmão caçula é PHD aos 15. Vou correr atrás do tempo perdido, implantes cerebrais estão na moda. Meia hora no Centro de aperfeiçoamento humano e saio de lá turbinada, falando os dez idiomas universais.
Ele disse que a decisão é minha. Não quero upgrade, quero chorar _ não consigo. Bloquearam?
O bip toca novamente, olho o termostato e não consigo enxergar, não consigo. Só penso que ele não quer, não quer. Não decido e o barulho não pára. Estou grudada à cama, petrificada.

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