Elo Primitivo

sábado, outubro 28, 2006

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foto e arte: Sabine Marins


quinta-feira, outubro 26, 2006

Pequeno dicionário de datas amorosas



Foto: Sabine Marins

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Silhueta do amor

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CelebRação dos cIclos da vida

de uma vida

desdobrada em celebração

segunda-feira, outubro 23, 2006


Sabine Marins
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"Querer escrever o amor é enfrentar a desordem da linguagem: essa região tumultuada onde a linguagem é ao mesmo tempo demais e demasiadamente pouca, excessiva e pobre."
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André Boucourechliev

quinta-feira, outubro 19, 2006

É Hoje!!!


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Lançamento da queridíssima Sandra Pina.
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Ilustr. Caio Borges
Ed. Salesiana

Local: Livraria da Travessa
Endereço : Rua Visconde de Pirajá , 572, Ipanema
Rio de Janeiro
Horário: às 20h
Tel.: (21) 32059002

sábado, outubro 14, 2006

Foto: Sabine Marins
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— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
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Manuel Bandeira

domingo, outubro 01, 2006

Três Marias


...........................................por Sabine Marins



Algumas coisas acontecem do nada e de repente quando a gente não tá esperando, pufh, já era.
Hoje à tarde a Luana veio aqui em casa e começou a falar mal da Clara. Até aí, tudo bem porque a Clara também já falou umas bobagens de mim pra Lu, que já deve ter falado bobagens de todo mundo. Nada demais, a não ser que, sei lá, depois que ela foi embora, tranquei a porta do quarto, deitei na cama de barriga pra cima e fiquei olhando pras estrelas grudadas no teto.
Me amarro nos planetas e galáxias. Acho incrível a gente ser um pontinho na nossa rua, que é um pontinho na cidade, que é um pontinho no país, um pontinho na terra. E a terra, caramba!, a terra é um pontinho no universo.
Gosto de apagar as luzes e acender a lanterna, que sempre fica na mesinha de cabeceira. Acendo e apago, acendo e apago, acendo e apago. Brinco como se a lanterna descobrisse uma nova estrela em cada piscada de luz. Órion é minha constelação favorita, tento ligar os pontos das estrelas pra ver se consigo formar o caçador, ainda não deu. Li as lendas sobre Órion, mas nunca me lembro direito. O que sei é que o cara gostava de uma Deusa que gostava do cara, e não ficaram juntos por causa do irmão ciumento dela. E ela deu de presente pra ele as estrelas, e eles nunca se encontravam.
No ano passado fiquei uma tarde inteira pendurada na escada colando as estrelas bem em cima da minha cama. Foi o melhor presente que mamãe já me trouxe de viagem. Ela, que viaja entre as nuvens o tempo todo, disse que comprou em Portugal e que quando eu ficasse com vontade de conversar era só apagar as luzes e imaginar que estou lá.
Engraçado, nunca me vejo dentro do avião, acho tão chato ficar servindo os outros. Minha mãe com aquele sorriso trabalho no rosto... Queria ver ela com um sorriso Uau, que máximo! Imagina só a cara dela se me visse com roupa de astronauta desenhando no espaço sideral pra ver ela feliz. É, eu sei, tô meia triste, acho que é de saudade, mas também tô meia feliz de ela não ficar em cima o tempo todo.
Mãeeee, olha pro lado, olha eu aí... sou boba mesmo, melhor desligar a lanterna e ficar no escuro. Não, eu gosto de ver as três Marias. Três amigas. Eu, Lu, Clara. Mãe, você tem amigas? Sabe, mãe acho que olho de amiga devia ser feito de estrela, quando gosta da gente de verdade, se ilumina. Aí era fácil descobrir.

O telefone toca, me distrai. É a Lu que começa a falar sei-lá-o-quê. Interrompo e pergunto na lata. Você é minha amiga? Ela fica meio assim, gagueja e diz: claro, você tem alguma dúvida ? Daí pergunto: Seus olhos brilham no escuro? Ãh? Ela responde. Olho de gato brilha, digo sem pensar muito. Ela faz silêncio e eu também. Não penso em nada, só sinto. Sinto um buraco negro na garganta e não tem palavras que saiam de lá. E aí percebo que tudo bem ficar em silêncio com a Lu. E só dá pra ficar em silêncio numa boa com uma amiga muito amiga mesmo.
_ Você tá bem?
_ Não sei, Lu.
_ Quer que eu vá pra aí?
_ Hum rum.
_ Tá legal, vamos num minuto.
A Lu mora no meu prédio, a Clara também. Em pouco tempo as duas chegam com mochila, travesseiro e chocolate. Abro a porta e quando vejo as meninas me dá uma alegria estrela-cadente-quando-passa e só a gente vê a tempo de fazer pedido. Dou um abraço triplo nelas e faço o meu pedido de olhos fechados que é pra ter mais força.
A gente conversa, vê Tv e bate papo na internet com os meninos da escola. Depois vamos deitar. Só apago o abajur quando vejo que elas dormem, aí ligo a lanterna e fixo nas três Marias, sempre unidas.
Dizem que as estrelas continuam a brilhar mesmo depois de mortas. Algo a ver com anos-luz, sei lá. Fixo o foco nas meninas e é nesse instante que os meus olhos se acedem. Agradeço. Secretamente agradeço. O meu pedido acaba de ser realizado.