domingo, julho 31, 2005
quarta-feira, julho 27, 2005
Cenas da vida
CENA 1- INTERIOR / NOITE / CASA DE CLARICE
Na tevê passa a última cena do filme Closer. Clarice pega o celular decidida.
CLARICE: Oi. Tô ligando depois desse tempo todo pra dizer que você é o maior canalha egoísta que eu tive a infelicidade de conhecer. Sei, sei. Não, imagina, pode ficar tranqüilo que não vou ferrar com a tua vida. Sou educada, lembra? Tão educada que não saquei o que você me fez. Só hoje... não, não, tudo bem cara. Foi um alívio porque vi que nunca te amei. Projetei um ideal falso de você. Ilusão. Shhhhh, não precisa se desculpar mais uma vez. Ei, não tô ligando por educação é que tava entalado no meu fígado. Como assim? Você era uma ressaca mal curada. Tô vomitando você e queria fazer isso na sua cara que é pra não restar nada. Não, peraí, não desliga ainda não, só uma última coisinha: lembra daquele papo de “espero que você seja feliz blá, blá, blá”. Fuck you.
Clarice arremessa o celular na cesta de papel ao lado do computador. Close na cesta.
CENA 2 – INTERIOR / DIA / VARANDA DE CLARICE
Clarice usando vestido florido rega os girassóis da jardineira. Patrícia chega, elas se abraçam, dão dois beijinhos.
PATRÍCIA: Hum, com esse chapéu nem precisa dizer, deixa eu adivinhar... boas notícias, acertei?
CLARICE: Ótimas!
PATRÍCIA: Anda menina diz logo, vai.
CLARICE: Parei de fumar.
PATRÍCIA: Ãh? Você nunca fumou...
CLARICE: Mas parei. Como é bom respirar ar puro de novo!
PATRÍCIA : Ih, pirou?
Clarice molha Patrícia com o regador. As duas se divertem, rindo.
CORTA P/ CENA 3
segunda-feira, julho 25, 2005
No dia do escritor...
uma homenagem para os que se aventuram... . . CATALIZADOR . . Palavra é bicho esquisito às vezes cega; ilumina . é risco, prece, detona dor, alívio, obsessão . Palavra é deSpErtaR |
sábado, julho 23, 2005
Enigma e poesia na canção
"O ser humano se comunica não apenas por signos e linguagens construídas com eles, mas também por enigmas contidos nas mensagens que trocamos. A competência para resolver esses enigmas é distinta da competência para interpretar signos - a segunda pressupõe a primeira. Um enigma muitas vezes resolvido se desgasta e pode colapsar em linguagem (como o fazem as metáforas na linguagem verbal)..."
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O poder da música, reações psíquicas revelam como os sons provocam emoção. Revista Viver mente e Cérebro, ed. junho 2005.
quinta-feira, julho 21, 2005
Nado Sincronizado
A francesa Virginie Dedieu arrasou agora pouco, faturando a medalha de ouro no campeonato mundial de nado sincronizado. A russa e a japonesa também fizeram bonito, conseguindo a prata e o bronze respectivamente.
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Na foto abaixo, eu (a primeira na parte de baixo), Isabela e Maria Thereza numa apresentação de nado sincronizado no Canto do Rio em 1983. Bons tempos!
Na foto abaixo, eu (a primeira na parte de baixo), Isabela e Maria Thereza numa apresentação de nado sincronizado no Canto do Rio em 1983. Bons tempos!
quarta-feira, julho 20, 2005
TV Cultura estréia seis novos programas infantis
18/07/2005 - redação UOL
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A TV Cultura estréia a partir da próxima segunda-feira, dia 25, seis novos programas para a garotada. Todos são programas nacionais, feitos pela própria emissora."Baú de Histórias" traz a magia dos grandes clássicos das histórias infantis, como "Soldadinho de Chumbo" e "Chapeuzinho Vermelho", contados por uma dupla de palhaços.
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Em "Zum, Zum, Zum", uma abelhinha vai apresentar curtas-metragens de animação brasileiros, tanto desenhos como filmes. Na estréia será mostrada uma produção que conta a história do piloto Ayrton Senna."
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Qual é, Bicho?" mostra o dia-a-dia dos animais dentro do Zoológico de São Paulo, desde o nascimento e crescimento dos bichinhos até seu comportamento, lazer e o cardápio de cada um deles.
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Em "Mostre Sua Língua", o professor Pasquale transforma a língua portuguesa numa divertida aventura para crianças e pré-adolescentes de 7 a 14 anos. Ao lado do seu amigo Coisinho, personagem do "Ilha Rá Tim Bum", eles vão dar dicas sobre a língua e os significados das palavras."
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Tá na Hora com DJ Cão" é um animado programa de clipes musicais só com músicas infantis nacionais criadas por compositores como Arnaldo Antunes, Edu Lobo e Toquinho.
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Por fim, "Agendinha" será um guia cultural para as crianças de 7 a 12 anos, com dicas de passeios, livros, filmes, peças de teatros, eventos culturais e espaços para se conhecer e freqüentar, com ou sem os pais.
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A TV Cultura tem o sinal aberto no estado de São Paulo e também pode ser vista no resto do país pelas operadoras Net (canal 17), Sky (canal 37), DirecTV (canal 203), antenas parabólicas digitais e analógicas.
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Bau de Histórias
Segundas-feiras, às 10h00 e às 14h00; domingos às 11h30.
Zum, Zum, Zum
Terças-feiras, às 10h00 e às 14h00.
Qual É, Bicho?
Quartas-feiras, às 10h00 e às 14h00; domingos às 11h00.
Mostra a sua Língua
Quintas-feiras, às 10h00 e às 14h00.
Tá na Hora com DJ Cão
Quintas-feiras às 10h15 e às 14h15.
Agendinha
Sextas-feiras às 10h00 e às 14h00; sábados às 11h30
terça-feira, julho 19, 2005
Eu e Lu
Recebi hoje da minha mãe uma caixa de madeira com muitas fotos. Estava esquecida no fundo do armário em Arraial do Cabo. Nada demais a não ser pelo conteúdo das fotos. Todas ligadas à escola, à escrita, à leitura, ao início da eterna alfabetização. Sincronicidade, diria Jung...
Eu e Luciani Peçanha - prima querida, vizinha, colega de turma, amiga, também foi colecionadora de selos, das bonecas de papel e acessórios, dos albuns Amar é..., Moranguinho, Disney etc - com cinco anos.
segunda-feira, julho 18, 2005
Ciclo de leituras Cartas do mundo
Será no Centro Cultural dos Correios em parceria com Estação das Letras, às 18h30, com entrada franca, a vida e a obra de grandes personalidades através de suas missivas:
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Dia 19 /07 _ Wolfgang Amadeus Mozart, por Ricardo Cravo Albim e Daniel Dantas
Dia 20 /07 – Mário de Andrade, por Affonso Romano de Sant’Anna e Ohton Bastos
Dia 21 /07 – Nise da Silveita, por Marco Lucchesi e Letícia Sabatella
Dia 22 /07 – Simone de Beauvoir, por Marina Colasanti e Zezé Polessa
Dia 23 /07 – Paulo Freire, por Regina e Assis e Michel Melamed
Dia 24 /07 – Cacique Seattle, por Cláudio Heinrich e André Trigueiro
ESPAÇO UFF DE FOTOGRAFIA - 15 ANOS
17 de junho até 21 de agosto de 2005
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"Para marcar a passagem dos 15 anos de criação do Espaço UFF de Fotografia, o Centro de Artes UFF está apresentando uma série de eventos comemorativos dedicados a essa forma de expressão. Os três espaços de exposição serão ocupados por artistas que usam a fotografia como suporte de criação.
Na Galeria de Arte UFF, a mostra "Visões Paralelas - da inquietação do moderno à fotografia contemporânea" traz o trabalho de 24 artistas. São eles: os pictorialistas João e Hermínia Nogueira Borges, os modernos Athos Bulcão, Francisco Aszmann, José Oiticica Filho e Geraldo de Barros, e os contemporâneos Cássio Vasconcellos, César Oiticica Filho, Kitty Paranaguá, Débora 70, Frederico Dalton, Júlio Callado, Maria do Carmo Secco, Marcos Bonisson, Marcos Magaldi, Paulo Máttar, Pedro Lobo, Pedro Karp Vasquez, Ricardo Pimentel, Rogério Ghomes, Rogério Reis, Simone Rodrigues, Walter Firmo e Walter Carvalho. A mostra propõe estabelecer diálogos entre obras importantes do modernismo e desdobramentos contemporâneos através do olhar de um time renomado de fotógrafos atuais. Segundo os curadores, Nadja Peregrino e Paulo Duque Estrada, o público vai poder ver um breve panorama do desenvolvimento da estética fotográfica, com obras da década de 40 até a atual.
No Espaço UFF de Fotografia, criado em 1990 por Paulo Máttar e Nadja Peregrino, a mostra José Medeiros - a aventura moderna exibe o trabalho daquele que foi um dos principais repórteres fotográficos de revistas ilustradas célebres , como "O Cruzeiro" e "Realidade". Com curadoria assinada pela própria fundadora do espaço, Nadja Peregrino e por Angela Magalhães, a exposição é resultado da Bolsa RioArte de apoio à pesquisa e será doada ao acervo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
No Espaço Aberto UFF, o artista plástico e ensaísta Fernando Braune vai exibir a instalação Êxôdo, um trabalho que mistura fotografia, pintura e cenografia para falar do livre arbítrio, das buscas existenciais, do sagrado e do profano."
Maiores Informações2629-5026/2629-5033
"Para marcar a passagem dos 15 anos de criação do Espaço UFF de Fotografia, o Centro de Artes UFF está apresentando uma série de eventos comemorativos dedicados a essa forma de expressão. Os três espaços de exposição serão ocupados por artistas que usam a fotografia como suporte de criação.
Na Galeria de Arte UFF, a mostra "Visões Paralelas - da inquietação do moderno à fotografia contemporânea" traz o trabalho de 24 artistas. São eles: os pictorialistas João e Hermínia Nogueira Borges, os modernos Athos Bulcão, Francisco Aszmann, José Oiticica Filho e Geraldo de Barros, e os contemporâneos Cássio Vasconcellos, César Oiticica Filho, Kitty Paranaguá, Débora 70, Frederico Dalton, Júlio Callado, Maria do Carmo Secco, Marcos Bonisson, Marcos Magaldi, Paulo Máttar, Pedro Lobo, Pedro Karp Vasquez, Ricardo Pimentel, Rogério Ghomes, Rogério Reis, Simone Rodrigues, Walter Firmo e Walter Carvalho. A mostra propõe estabelecer diálogos entre obras importantes do modernismo e desdobramentos contemporâneos através do olhar de um time renomado de fotógrafos atuais. Segundo os curadores, Nadja Peregrino e Paulo Duque Estrada, o público vai poder ver um breve panorama do desenvolvimento da estética fotográfica, com obras da década de 40 até a atual.
No Espaço UFF de Fotografia, criado em 1990 por Paulo Máttar e Nadja Peregrino, a mostra José Medeiros - a aventura moderna exibe o trabalho daquele que foi um dos principais repórteres fotográficos de revistas ilustradas célebres , como "O Cruzeiro" e "Realidade". Com curadoria assinada pela própria fundadora do espaço, Nadja Peregrino e por Angela Magalhães, a exposição é resultado da Bolsa RioArte de apoio à pesquisa e será doada ao acervo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
No Espaço Aberto UFF, o artista plástico e ensaísta Fernando Braune vai exibir a instalação Êxôdo, um trabalho que mistura fotografia, pintura e cenografia para falar do livre arbítrio, das buscas existenciais, do sagrado e do profano."
Maiores Informações2629-5026/2629-5033
De La Mancha a Niterói
Reitoria ganha escultura de Dom Quixote 9/6/2005
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Quatrocentos anos depois de sua criação, Dom Quixote chega ao Jardim da Reitoria da UFF, trazido pelos ventos do Programa Interlatinidades. Com aproximadamente três metros de altura, a escultura do famoso personagem da obra de Miguel de Cervantes Saavedra, vem atraindo a atenção de quem passa pelo local. Confeccionada em metal leve, o "Cavaleiro da Triste Figura", como também é conhecido, é destaque do acervo do artista uruguaio Julio Maturro. Segundo Leonardo Guelman, diretor do Departamento de Difusão Cultural da UFF, o Programa Interlatinidades da UFF ganha novo impulso com a peça do artista radicado em Minas Gerais, além de prestar homenagem à genialidade do escritor espanhol.De acordo com o idealizador da exposição, professor Luiz Antônio Andrade, pró-reitor de Extensão da UFF, a estátua de Dom Quixote permanecerá no Jardim da Reitoria até setembro, quando será doada ao Instituto de Letras. "É um presente do Programa Interlatinidades", enfatiza Andrade. A programação da Colônia de Férias, em julho, inclui inúmeras atividades sobre o tema, entre elas a realização de rodas de leitura com crianças.
sábado, julho 16, 2005
Acabou-se o que era doce!
Com direito a sessão pipoca, exposição de fotos, de livros e história em quadrinhos a oficina chegou ao fim ontem.
O resultado? Trabalhos fantásticos que me deixaram toda boba e com esperança em um futuro _ quem sabe? _ muito melhor, sem tanta corrupção. A fórmula é tão simples: investimento prioritário em educação e saúde. Senhores políticos, um pouco de seriedade, por favor!
Nem a ida ao Anima Mundi me consolou da saudade dos pequenos. Até que... hoje de manhã abri a pasta e encontrei os desenhos e bilhetes que eles fizeram pra mim!
O resultado? Trabalhos fantásticos que me deixaram toda boba e com esperança em um futuro _ quem sabe? _ muito melhor, sem tanta corrupção. A fórmula é tão simples: investimento prioritário em educação e saúde. Senhores políticos, um pouco de seriedade, por favor!
Nem a ida ao Anima Mundi me consolou da saudade dos pequenos. Até que... hoje de manhã abri a pasta e encontrei os desenhos e bilhetes que eles fizeram pra mim!
Bilhete de despedida
Sabine,
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Amei a oficina! Queria que tivesse mais aulas. Aprendi muito com você. Te adorei! Você é muito legal, vou ler todos os seus livros!
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Carol
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Carol, querida!
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É um privilégio ter convivido e experimentado tantas coisas junto com vocês! Meu dia amanheceu ensolarado. As idéias estão fervilhando com vontade de virarem histórias, fotografias, beijos, abraços e tudo que pudermos inventar. Eu daqui, vocês daí, a gente trocando figurinhas. Amei a sua história! Não me esqueço da coragem das suas personagens:
"Era uma vez três fadas que estavam cansadas de ficarem trancadas no castelo e por isso resolveram fugir. Pegaram o primeiro navio e foram embora. Não sabiam pra onde, mas mesmo assim foram..."
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Estou super, hiper, ultra-orgulhosa das histórias que criaram, das fotografias, das risadas, de vocês! Como foi divertido!
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Eu também quero ler todas as suas histórias! E vou parando por aqui porque sou uma manteiga derretida.
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Adoro você!
Beijos e até a próxima!
Sabine
sexta-feira, julho 15, 2005
Paulo Leminski
...Tudo é vago e muito vário,
meu destino não tem siso,
...o que eu quero não tem preço,
ter um preço é necessário,
...e nada disso é preciso
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***
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...um homem com uma dor
é muito mais elegante
...caminha assim de lado
como se chegando atrasado
...andasse mais adiante
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...carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
...uma coroa um milhão de dólares
ou coisas que os valha
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...ópio édens analgésicos
não me toquem nessa dor
...ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra
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la vie en close
quinta-feira, julho 14, 2005
Eu sei mas não devia
por Marina Colassanti
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Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas logo se acostuma a acender cedo a luz.E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar.A sair do trabalho porque já é noite.A cochilar no ônibus porque está cansado.A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.E a pagar mais do que as coisas valem.E a saber que cada vez pagará mais.E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra. A gente se acostuma à poluição.Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.À luz artificial de ligeiro tremor.Ao choque que os olhos levam na luz natural.Às bactérias de água potável.A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas logo se acostuma a acender cedo a luz.E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar.A sair do trabalho porque já é noite.A cochilar no ônibus porque está cansado.A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.E a pagar mais do que as coisas valem.E a saber que cada vez pagará mais.E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra. A gente se acostuma à poluição.Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.À luz artificial de ligeiro tremor.Ao choque que os olhos levam na luz natural.Às bactérias de água potável.A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.
Saber ler
O Globo - 14/7/2005 - por Luis Fernando Veríssimo
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Salman Rushdie era para ser a estrela da terceira Festa Literária Internacional de Paraty que terminou neste domingo, e foi. Só decepcionou quem esperava que ele se comportasse como estrela. É um homem bem-humorado e afável e sua participação, lendo e comentando trechos do seu último livro e depois um trecho de Italo Calvino, foi um dos pontos altos de um acontecimento que de tantos pontos altos pareceu uma cordilheira. Outro pico do evento foi a palestra do Ariano Suassuna, cujo tema era para ser "Brasil, arquipélago de culturas" mas no fim foi o espetáculo de Ariano Suassuna sendo Ariano Suassuna, outro show inesquecível. Eu falei para um grande grupo de crianças na Flipinha, um programa paralelo dirigido a escolares da região, e uma das perguntas que vieram da platéia foi: "O senhor sabe ler?" Pergunta básica e perfeita e mais importante do que imaginava sua pequena autora. Ela checava minhas credenciais para ser escritor e estar ali mandando todos lerem. Saber ler não significa apenas ser alfabetizado ou interpretar um texto como faz o Salman Rushdie, que lê como o ator frustrado que confessou ser. Também significa saber ler a realidade à sua volta, como fazem David Grossman, que vive em Jerusalém e tenta se manter racional e humano em meio aos ódios dos dois lados, ou Mv Bill, que nasceu na Cidade de Deus e sobreviveu e hoje faz a leitura mais certa do que é ser negro e pobre no Brasil. E aprender a ler também significa descobrir escritores, como se faz na Flip. Saí de Paraty decidido a ler tudo que encontrar do Grossman e da Beatriz Sarlo, por exemplo. Poderia ter respondido à menina que não, ainda não sabia ler como deveria, mas que chegaria lá.
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Os grifos são meus.
quarta-feira, julho 13, 2005
Terrárida
foto: SM
O eco rebatia nas paredes
nuas
sombras horizontais.
Não é lembrança, não é memória.
Dia e hora
marcados em
pretérito imperfeito.
Não é lembrança, não é memória.
Faltava água, sobrava fuligem
cheiro de ida
sem volta.
Não é lembrança, não é memória.
Entre fogo e precipício
frações
de segundo.
Não é lembrança, não é memória.
Não fosse cigarro, tabaco, fósforo, madeira, tempo
homem
não fosse a mão do vento se lançando labareda na estação.
Não é lembrança, não é memória.
Difícil suportar encontros
acasos
impactos ambientais.
Não há lembrança, não há memória ..........[há
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cinzas.
O eco rebatia nas paredes
nuas
sombras horizontais.
Não é lembrança, não é memória.
Dia e hora
marcados em
pretérito imperfeito.
Não é lembrança, não é memória.
Faltava água, sobrava fuligem
cheiro de ida
sem volta.
Não é lembrança, não é memória.
Entre fogo e precipício
frações
de segundo.
Não é lembrança, não é memória.
Não fosse cigarro, tabaco, fósforo, madeira, tempo
homem
não fosse a mão do vento se lançando labareda na estação.
Não é lembrança, não é memória.
Difícil suportar encontros
acasos
impactos ambientais.
Não há lembrança, não há memória ..........[há
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cinzas.
segunda-feira, julho 11, 2005
Cinema ao vivo
foto: SM
Festa de Paraty ganha documentário
Festa de Paraty ganha documentário
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O Globo - 10/7/2005 - por Bernardo Araújo e Rachel Bertol
O Globo - 10/7/2005 - por Bernardo Araújo e Rachel Bertol
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Quando viu no ano passado que a Praça da Matriz, no coração de Paraty, tinha parado para assistir pelo telão à palestra do escritor americano Paul Auster durante a Flip, a produtora Susana Villas-Boas, que tem casa na cidade, achou que um momento como aquele não poderia se repetir sem ser registrado. Ela ficou impressionada ao ver como a literatura, vista em geral como algo elitista, surtia efeito tão aglutinador. Pensando nisso, convidou o cineasta Bruno Barreto, que também tem casa por lá, para fazer um documentário sobre a terceira edição da Flip. Segundo Barreto, o clima da Flip é inspirador para se descobrir o que significa ser um contador de histórias. Para levar a cabo sua idéia, escolheu quatro escritores, dois já publicados (Luiz Capucho e Marcia Denser) e dois inéditos (Carlos Rodrigues e Carol Filgueiras), que foram seguidos por três equipes de filmagem nos encontros e desencontros pelas ruas de Paraty.
Quando viu no ano passado que a Praça da Matriz, no coração de Paraty, tinha parado para assistir pelo telão à palestra do escritor americano Paul Auster durante a Flip, a produtora Susana Villas-Boas, que tem casa na cidade, achou que um momento como aquele não poderia se repetir sem ser registrado. Ela ficou impressionada ao ver como a literatura, vista em geral como algo elitista, surtia efeito tão aglutinador. Pensando nisso, convidou o cineasta Bruno Barreto, que também tem casa por lá, para fazer um documentário sobre a terceira edição da Flip. Segundo Barreto, o clima da Flip é inspirador para se descobrir o que significa ser um contador de histórias. Para levar a cabo sua idéia, escolheu quatro escritores, dois já publicados (Luiz Capucho e Marcia Denser) e dois inéditos (Carlos Rodrigues e Carol Filgueiras), que foram seguidos por três equipes de filmagem nos encontros e desencontros pelas ruas de Paraty.