quarta-feira, março 31, 2004
terça-feira, março 30, 2004
Dia das surpresas
Hoje está sendo o dia das homenagens. A Ivy postou "sinais" lá. É um blog que vale a visita, aliás, vale torná-lo um vício.
Dea
Ela transmite emoção através de imagens. Eu visito o fotolog todos os dias. Ela é ótima! e preparou uma surpresa que me deixou comovidada. Surpresa mesmo! pela homenagem, pela qualidade do trabalho, pela escolha do poema e pela data. Incrível! hoje é antevéspera do nascimento desses versos, um ano de vida. Ficou curioso/a? Então clique aqui.
segunda-feira, março 29, 2004
Flash
Procuro a caneta na bolsa, não encontro. No escuro tudo me parece igual. O tato experimenta objetos em fragmentos; como luzes prateadas de boates. Ba–ton, blo-co. Ouço ecos, vejo zumbis imaginários e não consigo achar uma simples caneta. Ca-ne-ta, repito debilmente, como se o som evocasse a presença do objeto.
Passo perto de um letreiro luminoso, as cores invadem o compartimento obscuro. Levo um choque ao ver minha carteira de identidade: a foto 3x4, sem expressão, pisca para mim. Esfrego os olhos, pressinto o delírio, abro a bolsa devagar. Objetos se movem em câmera lenta. A foto vai decrescendo no tempo a imagem atual, passo a ter cinco anos menos, dez, quinze. Começo a achar que Andy Warhol tirou as fotografias. Minha vida descrita em polaroides que se desfazem e refazem automaticamente.
Tropeço, a bolsa cai no chão. Recoloco tudo no lugar, tento novamente, Nada acontece. Afinal, não passou de ilusão.
Paro em frente à vitrine, uma atmosfera crepuscular. A cortina de contas prateada evoca sonoridades da infância. Vejo meu rosto refletido no espelho. Não me espanto quando a imagem mostra cenas de um cotidiano esquecido. Abro novamente a bolsa, seguro a identidade e indetermino o rumo que ela deve tomar.
Fecho o zíper com mãos coalhadas de purpurinas, minha única reação é sorrir. Este gesto é o passaporte para ficção se fundir à realidade. Passo as mãos pelo rosto e continuo andando, reluzindo no escuro.
Passo perto de um letreiro luminoso, as cores invadem o compartimento obscuro. Levo um choque ao ver minha carteira de identidade: a foto 3x4, sem expressão, pisca para mim. Esfrego os olhos, pressinto o delírio, abro a bolsa devagar. Objetos se movem em câmera lenta. A foto vai decrescendo no tempo a imagem atual, passo a ter cinco anos menos, dez, quinze. Começo a achar que Andy Warhol tirou as fotografias. Minha vida descrita em polaroides que se desfazem e refazem automaticamente.
Tropeço, a bolsa cai no chão. Recoloco tudo no lugar, tento novamente, Nada acontece. Afinal, não passou de ilusão.
Paro em frente à vitrine, uma atmosfera crepuscular. A cortina de contas prateada evoca sonoridades da infância. Vejo meu rosto refletido no espelho. Não me espanto quando a imagem mostra cenas de um cotidiano esquecido. Abro novamente a bolsa, seguro a identidade e indetermino o rumo que ela deve tomar.
Fecho o zíper com mãos coalhadas de purpurinas, minha única reação é sorrir. Este gesto é o passaporte para ficção se fundir à realidade. Passo as mãos pelo rosto e continuo andando, reluzindo no escuro.
Evitando qualquer mal-entendido
Problemas de configuração entre a Microlink e a Symantec têm bloqueado alguns e-mails que enviam a mim, especialmente da UOL. Se isso aconteceu a você, não fique chateado/a. Meu outro e-mail é sabinecamano@aol.com e neste endereço está tudo bem.
domingo, março 28, 2004
Hierarquia*
Não sou eu que te chamo
é a curva em meu ombro,
a pele cala-frio.
Mistérios químicos da natureza
Apenas obedeço a forças superiores...
* Este poema foi publicado no jornal Rio Letras, edição 14.
sábado, março 27, 2004
Sinais
É mania, não tem jeito. Lanço perguntas ao ar e designo um meio de resposta: a próxima música da rádio, a página em que abrir o livro etc. Hoje fui à livraria com um conflito que insiste em permanecer. Fechei os olhos, pensando: o primeiro livro que eu encontrar vai me dar uma dica. Pasmem! dei de cara com “Agenda de Sabine” de Nick Bantock. Na capa estava escrito: “Sabine, se você estiver lendo isso, então você existe.”
Mistério...
Mistério...
sexta-feira, março 26, 2004
Internacionalização da Amazônia
Durante um debate numa universidade, nos Estados Unidos, Cristovam Buarque, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem americano introduziu a sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Esta foi a resposta do Sr.Cristovam Buarque:
"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada,internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro ... O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas
sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser
internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres
humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um
país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas
decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo.
O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é
Guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada.Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris,Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua historia do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas
mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos
EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas,
provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis
queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas,
enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia
seja nossa. Só nossa!".
P.S.: Recebi a matéria por e-mail, com pedido de divulgação. Segundo a fonte, não foi publicada.
"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada,internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro ... O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas
sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser
internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres
humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um
país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas
decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo.
O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é
Guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada.Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris,Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua historia do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas
mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos
EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas,
provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis
queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas,
enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia
seja nossa. Só nossa!".
P.S.: Recebi a matéria por e-mail, com pedido de divulgação. Segundo a fonte, não foi publicada.
quinta-feira, março 25, 2004
quarta-feira, março 24, 2004
Palácio de Cristal
Cortinas brancas de voal não bloqueiam a luz, distorcem paisagens. Forçam-me a ver o que não desejo. O barulho dos carros incomoda, tudo se movimenta. Meu sangue vagueia entre órgãos sem que eu permita. Esse tique-taque me irrita.
Sinto as gotas do lustre de cristal sobre a cabeça. Produzem sinestesia quando o vidro requintado se esborracha na cerâmica fria. Gotas dançam pelo salão, brindam à vida. Essa imponência serve pra quê? De que adiantam palácios de vidro? Minha estrutura não é metálica, ela pulsa. Basta um corte, um talho na veia certa, desmorono.
Os cristais quicam no chão feito bola de gude. Deslizam à grama. Meninos de rua aproximam-se encantados com o brilho do brinquedo. Antes de partir, com o machado na mão, escrevo no livro de presença: “Liberdade!”
Sinto as gotas do lustre de cristal sobre a cabeça. Produzem sinestesia quando o vidro requintado se esborracha na cerâmica fria. Gotas dançam pelo salão, brindam à vida. Essa imponência serve pra quê? De que adiantam palácios de vidro? Minha estrutura não é metálica, ela pulsa. Basta um corte, um talho na veia certa, desmorono.
Os cristais quicam no chão feito bola de gude. Deslizam à grama. Meninos de rua aproximam-se encantados com o brilho do brinquedo. Antes de partir, com o machado na mão, escrevo no livro de presença: “Liberdade!”
Eles pensam que sabem*
Claudia: E a Lu e o PH, você acha que vai rolar?
João: Sei não, o cara tá viajando.
Claudia: Viajando de fato ou de direito?
João: Os dois. Foi pra Búzios e tá ligadão na Lu.
Claudia: Búzios? Não era Pantanal?
João: Caralho! Falei merda.
Claudia: Seu irmão é um grande mentiroso, isso sim.
João: Você não sacou nada. Se o cara disse isso é porque tá a fim mermo. Não ia tirar onda se tivesse desinteressado.
Claudia: Que explicação merda.
João: Saca só o reino animal: quando o pavão quer conquistar a pavoa, o que ele faz?
Claudia: Sei lá, mas não existe pavoa, ignorante.
João: Mostra a plumagem, se abre todo, tira uma onda, pegou o lance?
Claudia: Ele não precisava mentir.
João: O PH é tímido. Fiquei impressionado, com sua amiga. Como é que ela sabia daquelas paradas?
Claudia: Sei lá, quer dizer, se você ficou impressionado é porque é verdade...
João: Não tô dando uma dentro hoje. Mas ó, acho que ele ficou pancado.
Claudia: A resposta dele não foi o que eu esperava. Eu achei que ele fosse marcar logo um encontro.
João: Pô, se tem uma mulher me cercando pela internet assim, eu fujo dela. Sumo, faço macumba, qualquer coisa. Eu hein, parece a Glenn Close naquele filme.
Claudia: Coitada da Lu, não sabe nem baixar um arquivo em download, é quase analfabeta em computador.
João: Sei... e as pesquisas no google... ele me confirmou, ficou cabreiro, já disse.
Claudia: Vocês são bobos mesmos. Todo mundo que está interessado em alguém coloca o nome do dito cujo no site de busca. São homens só no tamanho, e meninos emocionalmente. Qual a diferença de idade entre vocês?
João: Dez anos. Tenho dezenove, na crista da onda. E a gente vai ficar aqui só falando em Lu e PH? Não rola nem uns beijinhos?
Claudia: Tira essa mão boba daí, pirralho.
João: Você tá uma gata, sabia? Linda! Já pensou? Lu e PH; João e Claudia...
Claudia: João e Claudia não vai rolar. Já Lu e PH...
João: Esses dois ficam juntos, não tem jeito. Quer dizer, quando encararem o medo, o perigo, essas bobagens.
Claudia: Eu me encantei pelo jeito como eles se olham. Será que alguém um dia vai me iluminar assim?
João: Olha aqui! na sua frente: João Luz! em pessoa, carne e osso.
Claudia: Você é bobo... mas eu me divirto.
João: Vem minha estrela e deixa os mais velhos se virarem...
* Terceira parte da trilogia "Eu sei que você sabe"
João: Sei não, o cara tá viajando.
Claudia: Viajando de fato ou de direito?
João: Os dois. Foi pra Búzios e tá ligadão na Lu.
Claudia: Búzios? Não era Pantanal?
João: Caralho! Falei merda.
Claudia: Seu irmão é um grande mentiroso, isso sim.
João: Você não sacou nada. Se o cara disse isso é porque tá a fim mermo. Não ia tirar onda se tivesse desinteressado.
Claudia: Que explicação merda.
João: Saca só o reino animal: quando o pavão quer conquistar a pavoa, o que ele faz?
Claudia: Sei lá, mas não existe pavoa, ignorante.
João: Mostra a plumagem, se abre todo, tira uma onda, pegou o lance?
Claudia: Ele não precisava mentir.
João: O PH é tímido. Fiquei impressionado, com sua amiga. Como é que ela sabia daquelas paradas?
Claudia: Sei lá, quer dizer, se você ficou impressionado é porque é verdade...
João: Não tô dando uma dentro hoje. Mas ó, acho que ele ficou pancado.
Claudia: A resposta dele não foi o que eu esperava. Eu achei que ele fosse marcar logo um encontro.
João: Pô, se tem uma mulher me cercando pela internet assim, eu fujo dela. Sumo, faço macumba, qualquer coisa. Eu hein, parece a Glenn Close naquele filme.
Claudia: Coitada da Lu, não sabe nem baixar um arquivo em download, é quase analfabeta em computador.
João: Sei... e as pesquisas no google... ele me confirmou, ficou cabreiro, já disse.
Claudia: Vocês são bobos mesmos. Todo mundo que está interessado em alguém coloca o nome do dito cujo no site de busca. São homens só no tamanho, e meninos emocionalmente. Qual a diferença de idade entre vocês?
João: Dez anos. Tenho dezenove, na crista da onda. E a gente vai ficar aqui só falando em Lu e PH? Não rola nem uns beijinhos?
Claudia: Tira essa mão boba daí, pirralho.
João: Você tá uma gata, sabia? Linda! Já pensou? Lu e PH; João e Claudia...
Claudia: João e Claudia não vai rolar. Já Lu e PH...
João: Esses dois ficam juntos, não tem jeito. Quer dizer, quando encararem o medo, o perigo, essas bobagens.
Claudia: Eu me encantei pelo jeito como eles se olham. Será que alguém um dia vai me iluminar assim?
João: Olha aqui! na sua frente: João Luz! em pessoa, carne e osso.
Claudia: Você é bobo... mas eu me divirto.
João: Vem minha estrela e deixa os mais velhos se virarem...
* Terceira parte da trilogia "Eu sei que você sabe"
terça-feira, março 23, 2004
Eu sei que você sabe*
Lu,
Confesso que estou confuso. Tudo bem, eu já sabia que você sabia sobre minhas buscas no google (ufa!), mas quanto ao resto... só pode estar jogando verde. E não vou facilitar sua vida.
Gostei do corpete transparente, embarquei no fetiche!
Mês passado fui à Ilha Grande. Ahhhh! Sentiu um frio na espinha, não é?! Bom provar do próprio veneno. Eu quase entrei numa tal excursão ecológica até a praia de Lopes Mendes. É obvio que quando descobri sobre as cinco horas de caminhada desisti. Com meus dois maços de cigarro diários seria um programa do caralho. Fui de barco.
Você estava linda quando chegou lá, só de tênis, biquíni, cantil, pingando de suor. Prestei atenção em cada detalhe do seu corpo, dos seus gestos. Tirei fotos conceituais: você-suada, você-molhada-da-água-do-mar, você-pernas, você-cabelo, você-olhos, você-bico-do-peito-duro, você-mãos. Eu me divirto com suas fotos espalhadas pela cama. Nem imagina o que faço com elas, ou será que sua fonte secreta já me denunciou?
Estou no âmago da tormenta com paradoxos x desejos. Não sei se gosto dessa situação, mas afinal de contas, eu comecei a brincadeira e não vou pular fora.
Viajo amanhã. Farei fotos no Pantanal. Estou aprendendo a viver na incerteza, paciência comigo, valeu?
Um beijo,
PH
* segunda parte da trilogia “Eu sei que você sabe”.
segunda-feira, março 22, 2004
Eu sei *
Eu sei que você passa por mim e finge não me ver ou, então, dá dois beijinhos e segue sem olhar para trás. Tudo bem, entendo, a voz falta, as mãos tremem e o coração dispara. Adrenalina é fogo. Seu óculos chegou a ficar embaçado uma vez, nossa, quanta energia!
Eu sei que quando se deita à noite é em mim que pensa, que escreve meu nome no site de busca toda semana. Sei que já tentou não acompanhar minha vida, mas virou um vício, eu sei, viu? E quando toca aquela música lenta, aquela nossa, que foi sem nunca ter sido, rola uma lágrima, às vezes você soluça. Não sou convencida, apenas jogo limpo.
Já te vi deitado na cama, desabotoando a camisa, jogando os sapatos longe, abrindo o zíper da calça, se masturbando, babando, imaginado que estou ali, de corpete transparente. E quase na hora de gozar, falando meu nome. Eu vi, mas olha, pode deixar que eu não conto pra ninguém, ninguém mesmo.
Não fique curioso. Eu garanto que minhas fontes são seguras. Para além de sua compreensão, para além da minha, talvez.
Sei de outras coisas, mas essas eu não posso revelar, só conto no seu ouvido. Falo baixinho, só pra você, ou nem falo. Será que é preciso?
* primeira parte da trilogia “Eu sei que você sabe”.
Determinação Expressa
Antevejo como é a vontade.
Esse (espaço) não a comporta.
Que vontade é essa? Vontade à beça!
Vontade de não passar vontade
à tarde, ou tarde
tudo passa.
Menos essa vontade; ora adormece, ora entardece,
ora não vai embora. Embora embolada com a bio
grafia, fia a toda hora que é hora de ir embora.
Embora?
Ora, ora... Vai-te!
Já é hora de encher de vontades essa vontade insigne apesar de ser tarde.
Embora, talvez, ainda não seja sua hora.
Hora? Em que órbita ?
Vontade que não se dobra e des
dobra na casca tênue, é vontade
de obra que transcende às horas.
Sustenta a constelação, norteia
a vontade, à vontade, a vivificar:
vontade, Vontade, VONTADE...
Esse (espaço) não a comporta.
Que vontade é essa? Vontade à beça!
Vontade de não passar vontade
à tarde, ou tarde
tudo passa.
Menos essa vontade; ora adormece, ora entardece,
ora não vai embora. Embora embolada com a bio
grafia, fia a toda hora que é hora de ir embora.
Embora?
Ora, ora... Vai-te!
Já é hora de encher de vontades essa vontade insigne apesar de ser tarde.
Embora, talvez, ainda não seja sua hora.
Hora? Em que órbita ?
Vontade que não se dobra e des
dobra na casca tênue, é vontade
de obra que transcende às horas.
Sustenta a constelação, norteia
a vontade, à vontade, a vivificar:
vontade, Vontade, VONTADE...
sábado, março 20, 2004
Manhã. Tarde. Pão francês.
Manhã. Pão francês. Abacaxi. Jornal. Tarde. Praia. Quente. Cerveja. Gelada. Água. Morna. Maiakóvski. Caipirinha. Camarão. Lula. Céu. Azul. Sol. Arde. Barraca. Areia. Amigos. Risos. Política. Cosmologia. Ostra. Filosofia. Peixe. Beijos. Despedidas.
Anoitecendo. Casa. Banho. Rede. Eliot. Silêncio. Massagem. Pés. Mãos. Dedos; braços; dedos; ombro; outro; ombro; olhos; seios; dedos; coxas; boca; nuca; unhas; costas; língua; pêlos; mãos; cheiro; pele; olhos; fechados; olhos; abertos; olhos; barriga; beijo; umbigo; gota; suor; língua; dente; saliva, cheiro, cio, sorrisos, cúmplices, palavras, ouvidos, fragmentos, partes, congeladas, olhos, desejos, olhos, boca, dedo, pés, pernas, outra, perna, mãos, braço nuca cabeça nariz língua molhada mamilos virilha olhos abertos tato olfato paladar pele arrepio cílios pele dentro pele, suspiro. Noite. Banho. Billie Holiday. Água. Morna. Pele. Quente. Água. Abraço. Vela. Chama. Fogo. Xampu. Cabelos. Abraço. Água. Corpo. Espuma. Mãos. Partes. Nuas. Nucas. Feridas. Abraço. Chão. Boxe. Joelhos. Pés. Entre. Dedos. Língua. Sangue. Vermelho. Toalha. Lençol. Branco. Flores.
Madrugada. Dedos. Mínimos. Toque. Vício. Paradoxo. Químico. Pupilas. Dilatadas. Retinas. Pálpebras. Sorrisos. (In)Verdades. Coaguladas. Caos. Palavras. Trincadas.
Anoitecendo. Casa. Banho. Rede. Eliot. Silêncio. Massagem. Pés. Mãos. Dedos; braços; dedos; ombro; outro; ombro; olhos; seios; dedos; coxas; boca; nuca; unhas; costas; língua; pêlos; mãos; cheiro; pele; olhos; fechados; olhos; abertos; olhos; barriga; beijo; umbigo; gota; suor; língua; dente; saliva, cheiro, cio, sorrisos, cúmplices, palavras, ouvidos, fragmentos, partes, congeladas, olhos, desejos, olhos, boca, dedo, pés, pernas, outra, perna, mãos, braço nuca cabeça nariz língua molhada mamilos virilha olhos abertos tato olfato paladar pele arrepio cílios pele dentro pele, suspiro. Noite. Banho. Billie Holiday. Água. Morna. Pele. Quente. Água. Abraço. Vela. Chama. Fogo. Xampu. Cabelos. Abraço. Água. Corpo. Espuma. Mãos. Partes. Nuas. Nucas. Feridas. Abraço. Chão. Boxe. Joelhos. Pés. Entre. Dedos. Língua. Sangue. Vermelho. Toalha. Lençol. Branco. Flores.
Madrugada. Dedos. Mínimos. Toque. Vício. Paradoxo. Químico. Pupilas. Dilatadas. Retinas. Pálpebras. Sorrisos. (In)Verdades. Coaguladas. Caos. Palavras. Trincadas.